domingo, 4 de março de 2012

O dia em que eu quase congelei

Nariz escorrendo e a cara de feliz



Primeiro você para de sentir as extremidades do corpo, como os dedos dos pés e das mãos. Os músculos do rosto doem. Você fica extremamente cansado com facilidade, afinal, mal consegue respirar. O nariz escorre muito. As orelhas congelam. Se você tem dentes sensíveis, eles irão doer. E no final, você tem a certeza que o inferno é gelado!

Roupa térmica, duas calças jeans, camisa de lã, três camadas de casacos, cachecol, meias impermeáveis, meias quentes, bota de neve além de protetor de orelhas e gorro. Tudo isso foi insignificante para aquela tarde fria de Quebec, capital da maior província do Canadá.

Fazia aproximadamente -28°C, mas a sensação térmica era de, pelo menos, -35°C. Confesso que não me lembro da temperatura exata, mas esse detalhe é insignificante diante dos meus gritos de ódio, blasfemando contra o mundo, e pensando ‘Que espécie de idiota paga para sofrer desse jeito?’.

Era uma viagem com o grupo da escola. Mais da metade do grupo era brasileiro. Tinham uns adolescentes fúteis (nada contra os fúteis, só contra os adolescentes), uns nerds, um japonês que conhecia todos os palavrões em português e a galera legal, como meu tio, minha prima e eu. A viagem foi toda dentro de um ônibus nada confortável, e minhas pernas finas e compridas estavam doendo, afinal, não encontrei posição para coloca-las enquanto eu tentava dormir. Nesse dia eu realmente quis ser menor, mesmo já me achando extremamente baixo.

Como o sábio Murphy já havia alertado, se algo pode dar errado, dará errado da pior maneira, no pior momento e de modo a causar o maior estrago possível, exatamente como o que aconteceu. Chegamos a Quebec pela manhã, deixamos as coisas no hotel, tomamos o café da manhã mais caro e menos simpático de nossas vidas, e a guia nos levou para ‘conhecer’ a Old Quebec a pé.

Ultimamente tenho me questionado muito sobre o que passa na cabeça das pessoas quando elas têm ideias estúpidas, e esse com certeza foi um desses dias, afinal, aquele era realmente um dia frio, e nós ali, fazendo passeios a céu aberto, sem ver nenhum sinal de civilização humana, e a louca fingindo que estava feliz!

Mas já que estávamos ali e tínhamos pagado caro por aquilo, resolvemos, pelo menos, bater fotos e fingir que estava tudo perfeito e maravilhoso, para que todos morressem de inveja no Facebook. E foi em uma dessas paradas para fotos que nos perdemos do grupo. Confesso, foi o melhor que podia ter acontecido, porque entramos no Subway, a porta mais próxima da gente, e ficamos nos esquentando lá.

Uma coisa importante sobre o Canadá é que não importa o quão pobre ou simples pareça o bar, lanchonete ou qualquer espécie de comércio, pode ser uma budega, mas ele terá aquecedor, e isso salvará sua vida.

E é nessas horas de ócio e muito frio que você enlouquece. E acho que foi isso que aconteceu comigo, logo depois do almoço, quando, caminhando, chegamos a um parque onde só se via o branco do horizonte, tudo com muita neve. Por algum motivo, eu estava muito feliz. Não sei se foi algum mecanismo de defesa do meu subconsciente, mas eu comecei a me divertir. Corri, pulei, rolei na neve e esqueci toda a dor e frio. Pena que isso durou menos de 1h, e logo depois lá estava eu, gritando e blasfemando contra o mundo! 

6 comentários:

  1. hahahaha adoro teus textos. continue sincero e encantador.

    Se cuida!
    o/

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  2. "bater fotos e fingir que estava tudo perfeito e maravilhoso, para que todos morressem de inveja no Facebook"
    se o mundo durar mais uns 50 anos, é isso q os historiadores dirão de nós. e nada mais. hahahaha

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    1. Chegamos, minha prima e eu, a essa conclusão também. Hoje em dia, muita coisa só vale a pena por causa das redes sociais. Parecer vale tanto quanto ser!

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  3. E essa foto? rs
    O texto, mais Rafael impossível ;D

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  4. Cuidado! a inveja tem facebook!!! rsrsrs Adorooo os textos... Acompanhando...

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Me acompanha nessa viagem?