Nunca nada me assustou tanto como os primeiros dias. Primeiro dia de aula, primeiro dia no trabalho, primeiro dia na casa nova, primeiro dia na cidade nova. Não importa o quanto eu tente parecer descolado, definitivamente não gosto do novo, de me arriscar, de enfrentar o desconhecido. Sim, sou um bundão.
Não tem um primeiro dia na minha vida em que eu não pense: Cadê a minha mãe? Eu não sei bem quando isso começou, mas eu não fui sempre assim. Na verdade, acho que comigo aconteceu o processo inverso do natural, já que fui mimado depois da puberdade, depois de ter tido experiências onde eu era o meu próprio responsável.
Mas como "o que não tem remédio, remediado está", lá vou eu, todos os meses, enfrentar meu algoz. Todos os meses, nos últimos três meses, conhecer um professor diferente, entrar em uma sala diferente, usar um livro diferente, conhecer pessoas diferentes, de países diferentes.
Ainda me lembro do meu primeiro dia de aula no intercambio. Cheguei cedo, mudo e sentei. Aos poucos os outros alunos foram chegando e a professora também. Era uma terça-feira e na medida em que os veteranos chegavam e se acomodavam, abriam o workbook para conferir o homework.
Era tudo muito novo para mim e eu não entendia uma vírgula do que a professora falava. Me tremi todo quando, depois da correção do homework, ela pediu para que cada um se apresentasse. Fui prestando atenção em todos e quando chegou, finalmente, a minha vez, senti um grande frio na espinha e falei, quase gaguejando: Hi, I’m Rafael, I’m from Brazil and I’m forty-one years old.
Mesmo tendo corrigido a minha idade dois segundos depois, já era tarde. A professora já estava morrendo de tanto rir, os outros brasileiros estavam com vergonha aleia e os gringos todos me olhando torto. Achei que nunca mais teria chance de ser alguém naquela turma, até o segundo dia, afinal, o problema é sempre o primeiro dia.
Não importa com quanta graça e sucesso eu sobreviva a todos esses primeiros dias cheios de novidades, ainda assim me assusto. Minha vontade sempre é ficar em casa, embaixo das cobertas, sem fazer barulho, sem ser notado, e deixa-lo passar, apesar de ser racional o suficiente para saber que segunda-feira não é sinônimo de primeiro dia.
Quando me pego pensando o porquê de toda essa aversão, a conclusão sempre gira em torno da minha baixa autoestima. O medo maior é o medo de não ser aceito, de não corresponder às expectativas. Isso sim é assustador, já que normalmente os primeiros dias de qualquer coisa na vida são praticamente todos iguais: Como é o seu nome? Sua idade? De onde você é? O que você fazia antes de vir parar aqui? Ou seja, uma grande apresentação sobre um assunto que, teoricamente eu deveria dominar: EU MESMO.
Adorei. É exatamente assim que me sinto sobre os meu 'primeiros-dia' e já tive muitos. Parabens rafa, saudades e muito sucesso pra vc! Beijos ;*
ResponderExcluir"Cadê a minha mãe?" é ótimo!
ResponderExcluirPrimeiros dias são tensos, mas sempre vai fazer parte da nossa vida!
Vou ter um grande primeiro dia nos próximos meses :D
E eu só te desejo que esse 'primeiro dia' seja lindo e especial. Queria estar ai para te dar uma força, mas sei que você é melhor que eu e vai se sair bem. E o melhor, o dia só tem 24h. Passa rápido!
ExcluirPosts sempre reveladores... muito bom, parabéns!!!
ResponderExcluir